A partir de Alberti, o desenho começou a ser usado como principal meio de representação arquitetônica e ao longo dos anos se impôs como o instrumento definitivo de expressão do arquiteto. As transformações tecnológicas que ocorreram principalmente neste e no último séculos, impactaram diretamente, não só na representação em arquitetura, mas também e, principalmente, nos processos de criação e de visualização de projeto. A produção da representação gráfica no ambiente digital que hoje predomina grandemente frente aos meios analógicos possibilitou que a normatização se tornasse mais complexa e universal além de contribuir para o aparecimento e expansão de inúmeras novas ferramentas e possibilidades. A representação em arquitetura se encontra, há algum tempo, num hiato aberto em alternativas e múltiplas formas de olhar, analisar e expressar. Discute-se. Diverge-se. Para alguns o desenho, por exemplo, está morto, para outros acabou de renascer
Com o tema: “PERSPECTIVAS - A REPRESENTAÇÃO EM ARQUITETURA” buscamos lançar discussões sobre ideias, inquietações e reflexões sobre o passado e o futuro da expressão da arquitetura em todas as suas modalidades.
O que resulta dessa edição é um caleidoscópio de ideias que refletem a diversidade de abordagens sobre diferentes aspectos da representação, do que é, porque é e de como é, portanto, representado. Tendo a arquitetura como plano de fundo comum, são exploradas dimensões de como sua interpretação física está intrinsecamente relacionada ao ato de projetar, como apontam os autores José Barki (UFRJ), James Miyamoto (UFRJ) e Rodrigo Paraizo (UFRJ), a partir da proposição de agrupamentos quanto aos modos de ação propostos (análise, argumentação e construção) e suas relações de complementariedade e simultaneidade. De forma semelhante, Artur Simões Rozestraten (USP) apresenta reflexões sobre a natureza das representações, detalhando limitações e potencialidades, além de suas possíveis interações entre as diferentes possibilidades de estudos gráficos sobre uma obra. Por fim, Rozestraten indica, assim como Barki, Miyamoto e Paraizo, para a crescente tendência tecnológica da representação exposta por Ernesto Bueno (Universidade Positivo-PR) que, por sua vez, apresenta uma cronologia baseada no desenvolvimento de softwares experimentais de 2003 a 2014 e como esta evolução interfere nos projetos de arquitetura. Por outro lado, Maria Paula Recena (UFRGS) e Daniel Dillenburg (UniRitter-Mackenzie) sugerem uma nova perspectiva sobre a produção arquitetônica, tendo em vista a difusão da produção da computação gráfica, baseada no estudo de caso do material gráfico produzido pelo arquiteto Daniel Libeskind para o Museu Judaico de Berlim.
Por outra ótica de comunicação de uma obra arquitetônica hoje, chega-se a um entendimento sobre a importância de instrumentos que permitem o despontamento da arquitetura como imagem e favorecem sua compreensão como objeto construído. Neste caso, o artigo apresentado por Pedro Engel (UFRJ) dialoga sobre a importância dos modelos físicos como estudo de ambiências a partir de fotografias, principalmente como prática acadêmica desenvolvida em ateliês da ETH Zurique. Enquanto César Bastos (UFRGS) problematiza a fotografia como possível ferramenta para a criação de realidades múltiplas de uma mesma arquitetura e, finalmente, o questionamento da imagem articulado por Betty Mirocznik (USP) a partir da arquitetura fenomenológica de Peter Zumthor, apontando novas direções para a obsessão contemporânea pela representação espacial a partir da visão.
Numa linha de pensamento semelhante, Ana Teresa Villela (Universidade Estácio de Sá - Ribeirão Preto) e Rodrigo Gutierrez (Universidade Estácio de Sá - Ribeirão Preto) pesquisam como os desenhos de duas estações ferroviárias da Cia. Mogyana ajudaram a constituir um imaginário coletivo de Ribeirão Preto, já que ambas simbolizaram a noção de modernidade para a cidade. Tendo em vista, a perspectiva como constituição sócio histórica, estabelece-se o contraponto entre o texto traduzido, de Samuel Y. Edgerton, originalmente publicado em 1976 e o artigo de Vanessa Rosa (Universidade Anhembi Morumbi), cuja abordagem gira em torno da perspectiva linear a partir da influência árabe no Renascimento italiano.
Já como condição específica, Luciana Nemer (UFF), André Thurler e Igor Klein (UFF-RJ) investigam a pertinência da figura humana na construção de ambiências diversas ao se representar uma arquitetura específica, como composição própria e fundamental do trabalho.
Por fim, Verônica Natividade (PUC-Rio) aborda o desmantelar do "paradigma Albertiano" através de três aspectos da síntese digital contemporânea: o fim da compressão de dados dos desenhos bidimensionais em favor dos modelos de informação, a ampliação da janela perspéctica para a visualização imersiva da realidade virtual; e a fabricação digital, diretamente dos computadores para os braços robóticos.
Convidamos, então, nossos leitores a olhar por essa "camera obscura" através dos artigos de nossos colaboradores e esperamos que estes suscitem novas interpretações e contribuições para atuais e futuras discussões que, certamente, reservam, ainda, muitas e impensáveis novidades. Afinal, conceituar o que simboliza a representação é enredar-se por um universo metalinguístico proposto a diversos autores.
Boa leitura!