Decidimos para este número oito da Revista PRUMO, diferentemente das edições anteriores, em não ter um tema específico. Aceitamos a multiplicidade de pensamentos como uma atitude de resistência democrática diante dos ataques despropositados à ciência, à cultura e à intelligentsia nacional. Daí nasceu NÃO TEMA – um rearranjo de palavras que à época, ecoava menos como um sinal de alerta, mas um conforto num tempo futuro, frente ao presente que se mostrava por demais obscuro. Mal sabíamos, então, que as páginas da história, ainda por se escrever, se mostrariam ainda mais sombrias e duvidosas. O mundo, como já se disse, talvez nunca mais seja o mesmo. Não tema. A luz que nos tira da escuridão, como já se sabe, é o conhecimento. Os desafios há anos apontados por pesquisadores nas universidades e autores em livros e artigos especializados parecem bater à porta. Não há vidência do apocalipse pois, como já se adivinhava, é na academia que irá se rabiscar o futuro. Não tema. Nunca a ciência se fez tão necessária e urgente e ao mesmo tempo, tão questionada ao ponto de alguns, ainda que poucos, encontrarem espaço para duvidar da redondeza da Terra, ao invés de questionarem a desigualdade das cidades do planeta, ou a falta de saneamento de nossos quintais urbanos. Não tema. Lançamos esta edição da Revista PRUMO em meio a uma das maiores crises recentes da humanidade, mas talvez ainda não tenha passado da hora de repensarmos a arquitetura, o urbanismo, as sociedades e nosso lugar na Terra. É na pluralidade de ideias que vamos desdobrar perspectivas ainda impensadas. Esse caleidoscópio de temas é também, NÃO TEMA.
Assim, começamos com uma entrevista realizada por Petar Vrcibradic com o arquiteto e urbanista Eui-Sung Yi, sócio do arquiteto norte-americano Thom Mayne e que lidera projetos urbanos com foco em pesquisa ambientados na Ásia.
Aqui no ocidente, Carlos Eduardo de Pinto traça uma reflexão do ponto de vista arquitetônico da casa vazia no filme, O Desafio, de Paulo Saraceni.
Ainda no campo das imagens, Ana Mannarino analisa, através de fotografias, as obras de Congonhas do Campo do fotógrafo Marcel Gautherot.
Henrique Delarue, em seu ensaio explora a múltiplas facetas do diagrama na arquitetura e seu uso potencial como ignição do processo de projeto.
Maíra Machado Martins e Patricia Maya Monteiro descrevem os resultados do processo de projeto de extensão "A praça, a rua e o bairro”, que teve como cenário dois baixios do bairro de Laranjeiras.
Lilian Soares, em seu artigo, Gesto Furtivo, procura iniciar uma reflexão sobre o ato de desenhar e seu gesto, tendo como pano de fundo a linguagem das obras de Cy Twombly e o filme “Cave of forgotten dreams”.
Elizabeth Garcia e Otavio Leonídio destacam a eficácia dos conceitos de Arabesco e Grotesco na arquitetura “entre” de Peter Eisenman evocando todo um sistema de conceitos e metodologias que conduziram sincronicamente o seu trabalho.
Guilherme Bueno a partir da Oikema, um bordel projetado por Claude-Nicolas Ledoux em 1804, discute o papel da arquitetura como mediadora de sensações na experiência pública e privada.
Ana Marcela França discute em “Paisagem e natureza na arte contemporânea”, o embate entre natureza e cultura a partir das instalações artísticas realizadas desde os anos 1970 até a atualidade.
Na sequência, mas numa vertente diversa do mesmo tópico, os arquitetos Pedro Varella e Caio Calafate, sócios do escritório carioca GRUA, conversaram com a PRUMO sobre o projeto “A Praia e o Tempo” desenvolvido em 2018 para a nona edição do TEMPO Festival.
Em seu artigo, Karina Martins usa a tríade funcionalidade, visibilidade e densidade técnica para relacionar os espaços residuais urbanos com o conceito de urbanismo de fragmentação.
Elvert Duran, Alice Alves e João Victor Correia em ECO-VERNACULAR, buscam o diálogo entre conhecimentos tradicionais e novos cenários da sustentabilidade, tendo como ponto de partida a exposição “Prato de quê?”, realizada no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Denis Rezende e Edson Aro, analisam os indicadores de mobilidade urbana utilizados no Programa de Desenvolvimento Institucional Integrado – PDI, nos municípios do estado do Mato Grosso.
Beatriz Carneiro documenta a Oficina sobre Território, ocorrida em 2018 – Uma iniciativa do grupo de estudantes organizadores da nona edição da Semana de Arquitetura da PUC-Rio e jovens arquitetos brasileiros.
Boa leitura e não tema!