Editorial
Este é o primeiro número da Dignidade Re-Vista, um periódico acadêmico destinado ao debate interdisciplinar sobre os Direitos Humanos e valores cristãos. A iniciativa de fazer esse projeto surgiu através de um grupo de estudantes envolvidos nos projetos da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. Ao idealizar a revista, o grupo tinha dois propósitos: dar a oportunidade de publicação do primeiro trabalho acadêmico para alunos de graduação ou que estão no início da pós-graduação e ao mesmo tempo criar um espaço de divulgação e circulação de trabalhos na temática e na defesa dos Direitos Humanos e valores cristãos, independente da formação acadêmica de seus autores.
Um dos objetivos da revista se sustenta no fato de que cada vez mais é exigido uma formação acadêmica maior para que se tenha acesso aos editais de periódicos acadêmicos, por vezes se espera que o candidato tenha doutorado, ou mesmo que já seja professor universitário. É do entendimento da equipe que compõe a Dignidade Re-vista que de fato uma sólida formação acadêmica faz com que o indivíduo reflita e pesquise sobre seus temas de interesse e assim desenvolva trabalhos mais completos. Contudo, a equipe compreende também que em boa parte dos casos a vontade de atuar no mundo acadêmico surge primeiramente como vontade de escrever e expor suas ideias. Assim, proporcionar um espaço para que os estudantes que geralmente não são privilegiados em outros editais possam escrever, e, portanto, tornar públicas as pesquisas que têm desenvolvido, é contribuir para o desenvolvimento da pesquisa científica ao despertar indivíduos para uma possível vocação para a pesquisa. Tratando do segundo objetivo deste periódico, ou seja, da divulgação de trabalhos antenados com a temática dos Direitos Humanos e valores cristãos, espera-se promover maior circulação de ideias e reflexões sobre um assunto que é de interesse de todos, uma vez que trata a respeito de uma maior liberdade e igualdade entre os indivíduos, respeito as suas diferenças e heranças culturais, além da busca pela justiça social em um mundo que tem incessantemente tentado impedi-la. Inserido nisto, pretende-se também demonstrar que o conceito de Direitos Humanos não é parte de uma discussão que se restringe somente a um grupo pequeno de disciplinas. Por ser um conceito que diz respeito à humanidade, sua aplicação cabe nos mais diferentes espaços, não somente como objeto de estudo, mas como fim.
Neste número contamos com um total de 13 artigos aprovados para publicação. A plasticidade do eixo temático desta revista pode ser demonstrada pelos próprios trabalhos presentes nessa edição, de tema livre justamente para explicitar a interdisciplinaridade inerente ao conceito de Direitos Humanos e valores cristãos. Vemos isso tanto no trabalho do estudante de Engenharia Civil, Matheus de Paula, sobre a acessibilidade urbana e democracia, quanto no de Gabriel Vilela, estudante de Design, que propõe, através de sua área de atuação uma redução para os impactos da crise migratória dos refugiados de guerra. Já o trabalho conjunto de Ana Lídia Medeiros e Sérgio dos Santos nos mostra em uma perspectiva que une Ciências Sociais, Letras e Educação que o acesso à leitura também é um Direito Humano, uma vez que é indispensável para a Liberdade. Em chave parecida se encontra o texto do professor de História Helio Cannone que através de sua atividade como professor de pré-vestibular comunitário oferecido pela Pastoral Universitária, enfatiza a importância do conceito de experiência para a educação em Direitos Humanos. Além disso, há trabalhos que enfatizam a dimensão da fé, e, portanto, sinalizam que o respeito às especificidades culturais e a liberdade religiosa também precisam ser ideais defendidos por aqueles que sinalizam estar próximos dos Direitos Humanos. Especificamente sobre a relação entre fé e Direitos humanos contamos com o trabalho conjunto de Philippe Tavares e Igor da Silva que estabelece um diálogo entre a teologia cristã e os Direitos Humanos. Na chave de respeito e valorização das diferenças culturais, está o trabalho da estudante de Relações Internacionais Daisy Teles que promove um olhar crítico para o discurso das Operações de Paz e a promoção dos Direitos Humanos no mundo pós-colonial e o artigo de Pedro Braga, estudante de Ciências Sociais, sobre os Direitos Humanos na perspectiva dos povos tradicionais. Outros trabalhos chamam atenção para a relação entre Direitos Humanos e sociabilidade a partir das áreas de atuação das autoras. São os trabalhos de Rachel Baptista, Maria Helena Zamora e Larissa Villardo na Psicologia sobre uma proposta de família acolhedora, o de Karina Vieira que no Serviço Social trata da identidade e do racismo como construções sociais e o trabalho de Carolina Freitas que disserta sobre a influência das redes sociais no conhecimento social dos Direitos Humanos no Brasil. Finalmente temos um conjunto de artigos sobre a mulher e os Direitos Humanos. São os trabalhos de Amanda Lemos sobre respeito e valorização da mulher negra, o de Gabriele Roza que também fala da mulher negra, mas a partir do mapa da violência 2015 e a violência de gênero sofrida por estas mulheres e, por último, mas não menos importante, o texto de Kamilla Galan que nos faz pensar até que ponto as políticas sociais definem o padrão de mulher, a partir da experiência da autora no curso Projeto de Vida: Formação complementar em Direitos Humanos, oferecido pela Pastoral Universitária da PUC-Rio.