Editorial 

O primeiro número da revista PRUMO teve como tema o Rio de Janeiro, colocando em questão algumas das iniciativas públicas e privadas desenvolvidas a partir da escolha da cidade como sede de grandes eventos de porte internacional nos últimos anos. Neste terceiro número, a revista enfoca novamente a cidade.  

Com o intuito de promover uma discussão mais integradora, o tema se estende a toda América do Sul com a apresentação de artigos que tratam de pontos de vista e escalas de algumas cidades sul-americanas, valorizando suas semelhanças e, também, suas particularidades, no contexto contemporâneo de desenvolvimento urbano. 

Abrindo este número, se apresenta o livro Ciudades Sudamericanas como Arenas Culturales, através de uma entrevista com Fernanda Arêas Peixoto, organizadora e uma das autoras, e a socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho, também autora. Organizado pelo arquiteto Adrián Gorelik e por uma das entrevistadas, a antropóloga Fernanda Arêas Peixoto, o livro propõe diversos olhares sobre a vida cultural urbana em diferentes cidades da América do Sul e discute a cidade como lugar de germinação de tendências artísticas, projetos intelectuais e disputas político-ideológicas.  

A revista continua com artigos que tratam o desenvolvimento da cidade a partir de outras perspectivas e experiências. 

O arquiteto Alejandro Echeverri apresenta sua vivência e análise do trabalho desenvolvido nos últimos quinze anos em Medellín, na Colômbia, período no qual a cidade experimentou um processo de transformação urbana e social, principalmente, nas favelas. Essas áreas deixaram de ser lugares marginais para se transformar em pontos de referência de inclusão de inovação urbana. 

Com um olhar mais específico, também em Medellín, o arquiteto Cauê Capillé observa o projeto de Parques-Biblioteca como parte da agenda política de transformação urbana da cidade, atribuindo à arquitetura a capacidade de funcionar como dispositivo de fortalecimento sócio-político. 

Continuando com os processos de reforma urbana participativos, o arquiteto Ignácio Lira compartilha o trabalho desenvolvido pela Fundação Mi Parque em Santiago do Chile, que tem como missão criar e reforçar comunidades, por meio da recuperação participativa das áreas verdes nos bairros que mais o necessitam. 

A partir de Valparaíso, no Chile, o arquiteto Mauricio Puentes apresenta o caso desta cidade portuária observando seu processo de povoamento e morfologia urbana relacionada diretamente à topografia, onde a autoconstrução deu forma à complexa trama urbana que, até hoje, persiste nos relevos da cidade e que não responde a um modelo oficial aplicado. 

Guilherme Lassance, por sua vez, discute a reinauguração da Praça Mauá, localizada no centro do Rio de Janeiro, analisando criticamente a condição de cidade desigual, ao considerar a intervenção como parte de uma série de ações, que privilegia a área central e os bairros com população de maior renda da Zona Sul e parte da Zona Norte, em detrimento dos subúrbios. 

Também tratando o tema do desenvolvimento urbano, mas focado na mobilidade, Manuel Herce pontua criticamente algumas das propostas apresentadas para o Rio de Janeiro, e algumas das obras que foram realizadas para atender aos Jogos Olímpicos de 2016.  

Seguindo a temática do desenvolvimento e planejamento urbano, outro grupo de autores aborda a questão da cidade tendo como ponto de partida, a escala dos usos e apropriações do espaço. 

Roberta Edelweiss e Mauricio Cabas apresentam o caso de Porto Alegre, a partir de seus processos de transformação, compreendidos como a construção de uma identidade através de ações da sociedade civil, os quais geram valores de memória. Estas caraterísticas são observadas nos eventos efêmeros de apropriação do espaço público. 

Por sua vez, Adriana Sansão, Joy Till, Aline Couri e o LABIT (Laboratório de Intervenções Temporárias, do Programa de Pós-graduação e Urbanismo da FAU-UFRJ), apresentam uma ação de “urbanismo tático” de reconquista de um espaço esquecido no Rio de Janeiro, questionando o papel do cidadão nas transformações da cidade.  O sítio da intervenção foi a Travessa do Liceu, espaço público relegado no recente processo de transformação da Praça Mauá. 

Em São Paulo, Marcelo Carnevale discute sobre as novas formas de vizinhança, definidas a partir do cotidiano em que muitas coisas acontecem simultaneamente. Algumas mais explícitas, próprias da megalópole e outras mais sutis, à escala da rua, entre as quais sempre é possível descobrir relações. 

No Chile, Horacio Torrent nos fala da arquitetura moderna, no período entre 1930 e 1960, e de como ela fez parte de um processo de transformação social e de renovação do país, em que as grandes obras do estado de bem-estar adquiriram um sentido civilizatório e determinaram o processo de concentração urbana. Estabeleceu-se uma tradição moderna que gerou uma legitimidade social em prol de uma vida melhor e que se expandiu pelo país, tanto pela ação pública, como pela privada. 

Michel Masson apresenta o livro Guerra dos Lugares: A colonização da terra e da moradia na era das finanças, de Raquel Rolnik. Acompanhando este ensaio-resenha, está uma série fotográfica do próprio autor chamada Salve-Salve, realizada no Horto, na cidade do Rio de Janeiro. Hoje afetada pela desapropriação, o Horto é uma das comunidades abordadas no livro por Raquel Rolnik. 

Finalmente, Marcos Favero, Lucas Di Gioia e Victor Cattete apresentam a tradução do texto Urbanismo Infraestrutural, de Stan Allen, como parte do trabalho desenvolvido no Laboratório de Arquitetura, Infraestrutura e Território (LAIT) do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da PUC-Rio. 

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Revista Prumo 03

Publicado: 2017-08-01

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