O Espaço Urbano e a Geografia Escolar: possíveis caminhos para uma outra cidade
Resumo
A cidade é um espaço complexo e de grande importância para as ciências sociais. Diversas são as questões que envolvem o espaço urbano, como políticas, econômicas e sociais, conformando uma realidade multifacetada de difícil compreensão. Dentre seus múltiplos aspectos inter-relacionados destaca-se seu processo de reprodução, que encontra no processo de escolarização um importante dispositivo de rede de poder para a manutenção de dinâmica hegemônica de reprodução capitalista do espaço. O referido processo, em nosso entender orienta-se pelo exercício de pensar o espaço, em grande medida, aos aspectos materialmente visíveis presentes na paisagem. As construções e as feições naturais marcam uma primeira aproximação com a realidade socioespacial que não pode ser negligenciada por guardar em seu interior informações relevantes, com alguma validade teórica do espaço, todavia configuram um conjunto de informações insuficiente e parco da realidade. A produção capitalista do espaço (urbano) parece não ganhar centralidade no estudo escolar, marginalizando questões tidas como fundamentais para o entendimento da cidade, destacando-se a sua produção como mercadoria. Em detrimento destas questões são privilegiados temas que induzem um entendimento mais superficial e acrítico da cidade, como hierarquias urbanas e os diferentes processos de desenvolvimento urbano. Todos esses aspectos nos induzem a uma visão do espaço urbano limitada pela perspectiva capitalista predominante, impedindo que sequer sejam imaginadas perspectivas alternativas de apropriação do espaço. Em nosso entendimento essa “exclusividade analítica” estimula um imobilismo político involuntário nos estudantes, uma vez que, impossibilitados de uma reflexão mais profunda, compreendem a mercadificação do espaço como um processo irreversível e consagrado da sociedade urbana. Assim, concebe-se o espaço como meio homogêneo e vazio, no qual se estabelecem objetos, pessoas, máquinas, locais industriais, redes e fluxos. Tal representação fundamenta-se numa logística de uma racionalidade limitada, sinalizando que o equívoco de pensar ser possível que desde as antigas cidades gregas, passando pelos burgos feudais ou cidades industriais do século XIX até as metrópoles reticulares atuais persistissem os mesmos processos de reprodução do espaço. Neste texto defendemos que o processo de escolarização, especialmente no que tange à sua manifestação política, esteja pautado pela consagração da reprodução capitalista do espaço urbano, servindo de obstáculo ao florescimento de formas coletivas e significativas de pertencer e viver, ou seja, de apropriação humana do espaço urbano. Assim, defendemos que a compreensão da relação entre o processo de reprodução do espaço urbano e do processo de escolarização ganha bastante relevância para o desvendamento do mundo contemporâneo, com o fito de estimular uma outra cidade, distante da consagração do espaço-mercadoria e mais próxima da construção de uma outra cidade.
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